Canhões do Silêncio




Tendo como tema São Luís, José Chagas, publica em 1979 um grande poema com título de Canhões do Silêncio. Ele parte de elementos do bairro do Desterro para criar os versos incrustados de angústia e metonímias. Sebastião Moreira Duarte (1998) afirma sobre tal obra:

Constitui uma inquietante pergunta sobre o ser e o tempo. Pela metonímia do Mirante e do Desterro, e deste bairro à cidade, em sua trajetória histórica entre o esplendor e a decadência, o eu do poema metaforiza as contradições de grandeza e miséria, de virtude e vício, de permanência e perecimento que assinalam a própria cronicidade do ser humano.

Neste poema, José Chagas se utiliza de vários elementos morfológicos da arquitetura para desenvolver metáforas, comparações e metonímias. Dentre os quais podemos destacar as janelas, telhados e mirantes como elementos mais recorrentes.

É a de uma janela de um mirante que Chagas traça um retrato da cidade, onde se vê os telhados a partir do qual se desenrola o poema como um relato cotidiano e crítico da cidade de São Luís.


São Luís se mostra à vida
para quem queira ou não queira,
como coisa consumida
em luz, em glória, em poeira

E nunca se mostra igual,
nem é só uma, são três:
mistura de Portugal
e Holanda, em sonho francês.

(CHAGAS, José. 1979)

Alcântara - Negociação Azul ou A Castração dos Anjos



Alcântara – Negociação do Azul ou Castração dos Anjos teve sua primeira edição no ano de 1994. O livro é constuído por um grande poema de 323 páginas. Desta forma, José Chagas descreve as ruínas da cidade destacando a historicidade tal como alguns aspectos morfológicos, culturais, arquitetônicos e, consequentemente, a memória de Alcântara.

A prosperidade economica e cultural de Alcântara do século XVIII é apresentada em contraposição com abandono da cidade atual. De um lado a Alcântara do século XVIII, escravista com grande poderio econômico e o padrão de vida europeu. Do outro lado, a cidade que possui uma base espacial, mas que ao mesmo tempo é vista como morta e em ruínas, mas ainda cultiva sua memória, na esperança de ser lembrada não apenas como uma cidade-museu.

O poema ainda é divido em duas partes: a primeira queda (o tempo) e a segunda queda (o espaço). Tal divisão remete as concepções do sociólogo francês Maurice Halback sobre a importância e a decadência da memória coletiva e, consequentemente das cidades. Segundo Maurice (1990), para que a memória coletiva permaneça consolidada em uma comunidade/cidade devem-se conservar marcos do tempo (registros escritos e orais) e do espaço (espaços físicos: arquitetura e morfologia da cidade), sendo esta memória importante para consolidação de uma identidade local.

No livro, marcos do tempo e do espaço são apresentados a fim de apresentar uma cidade que não deve ser vista com a concepção de cidade morta (tão recorrente na poesia), mas que Alcântara como viva, como um verbo, pois a memória coletiva ainda existe...

Alcântara não é substantivo
é verbo
ação
movimento de memória
dinâmica de sentimentos
gerando emoções
e girando sempre
em torno de um fuso
que fia o passado
e o enovela em futuro”
(CHAGAS, p. 173)

José Chagas



Nomeado José Francisco dos Chagas, advindo de uma família de lavradores, José Chagas nasceu em 29 de outubro de 1924 no sítio Aroeiras no município de Piancó, Paraíba, local onde viveu seus anos de infância e adolescência no cultivo da terra. Somente em 1945 sua família mudou-se para São Luís onde pode completar seus estudos. Apesar de não ter nascido no maranhão, considera-se um maranhense de coração e faz ode a cidade, sem máscaras e hipocrisia.

Trabalhou como funcionário público no IBGE, como o cargo na Administração Pública, tendo também exercido a função de vereador na Câmara Municipal durante a década de 1970 e aposentou-se como técnico em Comunicação Social pela Universidade Federal do Maranhão, UFMA.

Atualmente exerce seu dom literário não apenas como colaborador do jornal O Estado do Maranhão, mas também ocupando a cadeira numero 28 na Academia Maranhense de Letras. Maranhense de coração, José Chagas possui uma vasta obra que prioriza o cenário das cidades de São Luís e Alcântara como tema, pincelando sem seus versos elementos arquitetônicos com o uso de belíssimos jogos de figuras de linguagem com um verdadeira contextualização urbana nos seus poemas.

I Sarau Literário e Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: A Cidade Na Poesia e Prosa de Ferreira Gullar

O I Sarau Literário Urbano - Fragmentos da Cidade Suja: a cidade na poesia e na prosa de Ferreira Gullar teve como referências os livros: Cidades Inventadas e, principalmente, o Poema Sujo - ambos escritos por Ferreira Gullar. O evento foi realizando no dia 16 de abril, no prédio do curso de Arquitetura e Urbanismo da UEMA e contou com a participação de 24 pessoas.


Ferreira Gullar, desde pequeno, demonstrou grande afeição pela literatura. Nascido José Ribamar Ferreira no dia 10 de setembro de 1930, na cidade de São Luís, capital do Maranhão, quarto filho dos onze que teriam seus pais, Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Sua obra é marcada por diferentes fases, do experimentalismo ao lirismo, do neoconcretismo a literatura de cordel. Em seus livros cidades Inventadas e Poema Sujo demonstrava seu fascínio pela cidade, procurava apontar a problemática da vida política e social do homem brasileiro. Escrevia para ser compreendido.
 

Cidades Inventadas e O Poema Sujo

Cidades Inventadas

Sua primeira publicação deu-se no ano de 1997 e foi escrito assim como o poema sujo em Buenos Aires enquanto o escritor estava exilado. O livro possui 25 contos, cada um deles retratando uma cidade criada pelo autor, mas com algumas características pertencentes a cidades existentes. Podemos perceber o Interesse de Gullar pela história das cidades e sua formação, o escritor não esconde sua fascinação pelo cotidiano urbano.

Poema Sujo

Ferreira Gullar criou o poema sujo enquanto se encontrava em exílio em Buenos Aires. Foi publicado em 1976, Ferreira ainda se encontrava no exílio. Colocado como a obra mais ousada do escritor que queria expressar todo o seu passado em época de repressão e se expor através da escrita até que não houvesse mais nada a ser escondido, pra finalmente se libertar. O poema tem esse título devido às palavras de baixo calão que são utilizadas durante toda a extensão do poema.

Longe de casa Gullar retorna através de memórias de infância e de outras fases de sua vida à sua cidade natal: São Luís do Maranhão, utilizando doses de imaginação e fatos realistas. Tendo como ferramenta o desejo de falar sobre o passado, Ferreira mostra uma São Luis de diversas faces, com seus defeitos e qualidades. O Poema retrata de modo poético os cenários de São Luís, não somente a parte estrutural, mas também a sociedade.


Quem é Ferreira Gullar?


Nascido José Ribamar Ferreira no dia 10 de setembro de 1930, na cidade de São Luís, capital do Maranhão, quarto filho dos onze que teriam seus pais, Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Desde pequeno demonstrou afeição pela literatura, então ao fazer uma redação em homenagem ao dia do trabalho, onde ironizava o fato de que os trabalhadores não iam ao trabalhar nesse dia, não obteve a nota máxima devido a erros de grafia, desde esse dia se dedicou mais aos estudos de gramática.

Ferreira Gullar não se prendia a uma única estética - a uma única forma. A originalidade do autor é definida por sua dinâmica em diversos usos da linguagem, das formas e dos sons. Sua obra é marcada por diferentes fases, do experimentalismo ao lirismo, do neoconcretismo a literatura de cordel. Procurava apontar em suas obras a problemática da vida política e social do homem brasileiro. Foi um poeta, teatrólogo e intelectual que se importava tanto com as lutas e conquistas do Brasil que em 1964 durante a ditadura militar foi preso e exilado.

Preso por possuir fazer uma literatura que ameaçava na época, considerada perigosa. Mesmo quando saiu do Brasil, não parou de escrever. Inspirou-se nas diversas cidades que conheceu, mas nunca deixou pra traz sua nacionalidade e acima de tudo sua naturalidade.

Foi em Buenos Aires que escreveu sua obra mais famosa, considerada a melhor por todos os críticos o Poema sujo. Livro cheio de conjugações carnais, com lirismo cantado e realidades de sua cidade natal: São Luís do Maranhão. Um dos aspectos mais importantes em sua obra é a dicção coloquial, falar como o povo e fazer-se entender. Por utilizar essa linguagem, suas obras foram muito criticadas pelos tradicionalistas. Mas para Gullar permanecia a usar a linguagem comum, pois acredita que o importante é escrever para ser compreendido.

REFERÊNCIAS.

OLIVEIRA, Cissa de. Jornal de poesia (internet). Local desconhecido: Jornal de Poesia. Atualizado em 2013; acesso: 13/05/2013. Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/gula.html

NOGUEIR JÚNIOR, Arnaldo. Projeto releituras: resumo biográfico e bibliográfico. Local desconhecido: Projeto Releituras. Atualizado em 2012; acesso 15/05/2013. Disponível em: http://www.releituras.com/fgullar_bio.asp

GULLAR, Ferreira. Poema Sujo. São Paulo. Círculo do Livro, 1980.

GULLAR, Ferreira. Cidades Inventadas. São Paulo. Jose Olympio, 1997.

CÂNDIDO, Antônio. Literatura e sociedade: história literária. 5ª ed. São Paulo: Nacional, 1976.